Ramagem nega “intimidade” com clã Bolsonaro e critica Moro

SÃO PAULO – O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, afirmou, em depoimento à Polícia Federal na última segunda-feira (11), ter obtido a confiança do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas negou intimidade com a família do mandatário.

O depoimento durou cerca de sete horas e faz parte do inquérito autorizado pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), para investigar sobre uma suposta tentativa do presidente de interferir na autonomia da PF, conforme acusou Sérgio Moro ao deixar o Ministério da Justiça e Segurança Pública.

Moro afirma que Bolsonaro pressionou pela substituição de Maurício Valeixo, aliado do ex-juiz, na direção-geral da corporação e para a troca do comando em superintendências específicas, sobretudo no caso do Rio de Janeiro.

Ramagem foi o nome escolhido pelo presidente para suceder Valeixo no comando da Polícia Federal. A nomeação, porém, foi barrada por decisão liminar do ministro Alexandre de Moraes, do STF, sob alegação de possível conflito de interesse, tendo em vista a suposta proximidade de Bolsonaro com o indicado, e em meio às acusações de Moro.

Em depoimento aos investigadores, Ramagem disse que tem o “apreço” da família do presidente, mas negou amizade e acusou Moro de “desqualificar” seu nome para o cargo de diretor-geral da corporação. Ele também afirmou ter sido consultado por Bolsonaro e pelo ministro da Justiça, André Mendonça, sobre as qualificações profissionais do delegado Rolando Alexandre de Souza para assumir o cargo máximo da PF.

[Ramagem disse] que o depoente [Ramagem] tem ciência de que goza da consideração, respeito e apreço da família do presidente Bolsonaro pelos trabalhos realizados e pela confiança do presidente da República no trabalho do depoente, mas não possui intimidade pessoal com seus entes familiares”, afirmou Ramagem no depoimento.

[Ramagem também disse] que no entender do depoente, o motivo da sua desqualificação, portanto, foi o fato deste não integrar o núcleo restrito de delegados de Polícia Federal próximos ao então ministro Sergio Moro, uma vez que, diante dos fatos ora relatados, não haveria um impedimento objetivo que pudesse conduzir à rejeição de seu nome”, acrescentou, segundo transcrição do depoimento.

Alexandre Ramagem assumiu a segurança de Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2018, após a facada sofrida pelo então candidato em Juiz de Fora (MG). O delegado, no entanto, nega proximidade com a família presidencial e minimizou foto tirada com o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente, no réveillon de 2019.

Segundo o site UOL, Ramagem apresentou argumentações que ajudam na defesa de Bolsonaro. Dentre elas está a apresentação de um levantamento sobre a origem de informações recebidas pela Abin, para dizer que “a Polícia Federal, através da Diretoria de Inteligência Policial, não ocupa as primeiras posições dentre aqueles que repassam informações com mais frequência à Abin”.

A versão corrobora com argumentos apresentados por Bolsonaro de que cobrava de Moro relatórios de inteligência da PF – embora não esteja claro de quais tipos de documentos o mandatário se referia. De acordo com Ramagem, o presidente reclamava da falta de relatórios enviados por Moro e Valeixo – versão distinta da apresentada pela dupla.

Nos próximos dias, novos depoimentos serão colhidos pelos investigadores. Hoje, será a vez dos ministros palacianos Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), Walter Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo). Na quinta-feira (14), a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) será ouvida.

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By Júlio Cesar

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